segunda-feira, novembro 02, 2009




o dia acorda assustado, nas portas, nas paredes, nas janelas.

das palavras engaioladas sussurros de lembranças, nas partituras roxo-amarelas das flores entristecidas.

para visitação dos corpos que já não mais existem, procissão de devotos segue pela alameda da saudade, entre acesos círios, entoando hinos em com-passos contritos. e percorre todas as trilhas margeantes das lapides frias.

assisto sua caminhada, mas não sigo.

meus mortos?

estão aqui, no sofá da sala, no candelabro de cristal, no livro aberto sobre a mesa, na plena exaustão do relógio que bate meu olhar desperto madrugadas tantas, nas conversas gravadas pelos quartos, nas fronhas, nos lençóis de linho do meu velho enxoval.

meus mortos?

retidos na moldura dos retratos, nas cinzas do relicário, no cheiro de café a perfumar manhãs mais que a vida, na gaiola do canário belga que perpetua suas cantorias, porque sabe tem os dias contados e conhece de deus:- os artifícios!

meus mortos?

na água dos jarros que repete as sonatas das fontes, na chuva banhando as serras, abismos, e precipícios.

na cal, no pau, na pedra, no pó, no ar, no chão.

meus mortos dentro de mim:

-por isso mastigo o trigo com o qual o diabo amassou meu pão!

anadeabrãomerij

Um comentário:

  1. Olá...estive aqui, li algumas coisas e coloquei em meus favoritos.
    Virei sempre...
    Você escreve divinamente...

    beijos procê

    SilviaFilippo

    ResponderExcluir

Faça seu comentário, envie sugestões.
Obrigada!