quinta-feira, fevereiro 04, 2010




_ insuportabIdades_

dias existem em que me pego com medo da palavra, a que disse, a des-dita, aquela que direi, a que não sei dizer.
é uma coisa clarice nos dentros, é um jeito lispector de resistIR-me.
as multidões me apavoram, o mar me sufoca, a janela aberta me assombra.
" reviro-me em ostra, respingada de limão, é claro."* ( de Clarice)
desensofrida, sangro em desgostares, agonizo por desempatias.
bebo doses amargas de pânico.
antagonicamente, sinto que minha esperança (retinta demais) é tola , quase beirando ao patético, porque em contraditório faço-me em compasso de aguardos.
aguardar o quê?
as horas passando, o tempo envelhec(S)endo-me?
ponho-me a espiar a vida, e seguro nas mãos da solidão doloridamente insuportável, cheia de ausentes-presenças- falantes, dos lugares por onde andei, das pessoas que ganhei, daquelas que perdi, sem nem mesmo saber o como.
sem entender sequer se houve um talvez.

talvez, é palavra ferina e acre.

talvez...se pudesse viver de novo.
talvez...se pudesse passar a limpo.
talvez...se outras escolhas.

talvez!
advérbio tinhoso e martelante, incógnita desses meus existires.

um tanto-muito, desventa feito páginas velhas, letras esmaecidas por descuidos, ou desusos.
misturadas emoções, plasmadas e retidas no palato da alma, travadas na minha mais irrestrita incompetência , por não saber o que fazer delas.

escreViver de palavras pode ser livramento, mas é também amargoso , quando o Verbo revira-se maior que nossa miudeza, editando confundimentos em nossos olhares, rasurando perceberes, macerando claudicantes certezas, replicando infinitos de incertezas.
dor de incerteza é adaga.
finca .
fuso afiado na mó do destino, tecido no tear das parcas, que sem aviso prévio azucrinam seus dedos , e cortam o fio da meada, desenovelando as fibras, embaraçando os fios da vida.
o que me adoece mesmo é esta insuportablIdade -estática diante as multipliCidades dos meus sentires, dúbios-fundos-confusos.

meu cão , é sábio, conserva um permanente brilho de alegria no amarelo dos olhos, latidos ternura saltando sobre mim,
independente desta persistente fundeza, ele me acolhe sem questionamentos,sem variantes.

como ele, estas delicadas violetas e valentes orquídeas, florando e acontecendo aqui , dentro das normalidades de suas naturezas.

eu que tantas vezes, nem rosno...incontáveis estações nunca desfloro, suplico aprendizados.
eles sorriem e me abraçam , entre suas patas e pétalas aquecidamente amorosas.
enrosco-me nestas serenidades.

padeço é de ser gente.
quem sabe um dia, com meu cão , com meu jardim....aprendo-me. 

anadeabrãomerij

4 comentários:

  1. Um dia o 'destino' de ser gente será reverenciado por todos nós; belo, angustiante poema, mostra as fibras de um ser, reveladas, claras, todas.

    poesia, isso, tu

    beijo

    El

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  2. vc é linda, por demais...e a palavra n se molda a outros tons, mas, a vc.

    Dira Vieira

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  3. El, Obrigada querida,acho que poesia é catar esses restos, essas sobras, da vida nossa, e dos outros também.
    Já está tudo escrito nos ares, eu só faço copiar. Bjs, nana

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  4. Dira, meu anjo bom,
    Nos passos que damos a gente vai descobrindo um verso aqui, um poema acolá, depois a mão cuida de copiar, cada um a seu jeito. Concorda?
    Obrigada por vir, bjs, nana

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