sexta-feira, maio 07, 2010




_ inventarium _


para prestar contas tenho a palavra interdita e muitos silêncios

uma resma de páginas em branco, um lápis anil, os livros gastos

três réstias de poemas loucos ,assombrando as retinas da casa

uns recostados nas cadeiras de veludo e nos umbrais das portas

outros,com as mãos exaustas pelos vitrais coloridos pendurados






deixo-te, filho:

alguns vasos,o pé de acerolas, o rosário e o catecismo de fé longínqua

dúzia e meia de alegrias esquecidas- nunca usadas, e deixo-te também

a melodia intacta afogada na cauda do piano plasmado na sala de estar





deixo-te, filho:

centenas de dias inocentes pousados na superfície dos sonhos

plenamente virgens, para que possam anunciar tuas futuras primaveras

e o calendário intacto dos domingos amorados ainda por viver





deixo-te, filho:

quase seis dezenas de sobretardes travessas e sorridentes

as gaiolas amarelas dos canários belgas e os afagos das manhãs meninas

de quando o sol ainda não se manchara de sangue





os punhais do medo

as garras da solidão

os gritos das insônias

os ecos das lágrimas

os soluços das cicatrizes



deixo-os ,um por um, acorrentados no porão:

_ deles cuidará a garganta voraz do tempo!


anadeabrãomerij


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