
_ inventarium _
para prestar contas tenho a palavra interdita e muitos silêncios
uma resma de páginas em branco, um lápis anil, os livros gastos
três réstias de poemas loucos ,assombrando as retinas da casa
uns recostados nas cadeiras de veludo e nos umbrais das portas
outros,com as mãos exaustas pelos vitrais coloridos pendurados
deixo-te, filho:
alguns vasos,o pé de acerolas, o rosário e o catecismo de fé longínqua
dúzia e meia de alegrias esquecidas- nunca usadas, e deixo-te também
a melodia intacta afogada na cauda do piano plasmado na sala de estar
deixo-te, filho:
centenas de dias inocentes pousados na superfície dos sonhos
plenamente virgens, para que possam anunciar tuas futuras primaveras
e o calendário intacto dos domingos amorados ainda por viver
deixo-te, filho:
quase seis dezenas de sobretardes travessas e sorridentes
as gaiolas amarelas dos canários belgas e os afagos das manhãs meninas
de quando o sol ainda não se manchara de sangue
os punhais do medo
as garras da solidão
os gritos das insônias
os ecos das lágrimas
os soluços das cicatrizes
deixo-os ,um por um, acorrentados no porão:
_ deles cuidará a garganta voraz do tempo!
anadeabrãomerij
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