quinta-feira, fevereiro 04, 2010

comme on meurt... { como se morre}



_ cântico de partida_


[apesar de, que florem os jacintos...]

(por você, Jacinto querido!)





jacinto, depois que partistes, tardo-me em voltar a existir!



ó deus escondido por que com tua adaga rasgas uma por uma minhas parcas serenidades,alagas meu credo com esse gosto insalubre, derramas em minhas retinas sal e fel, e minha fé crucificas ?



como o tempo, solto meu grito voraz e ferido, prenhe de sortilégios:

- por que despejas teus mistérios e teu cajado sobre meus passos trôpegos, por que cravas nas mãos de minh’alma pregos enferrujados pelos seculares pecados de eva, de quem sequer fui cúmplice?



por que não nos deixastes o legado de maria, tua filha escolhida?



que herança perversa destinastes aos teus filhos, qual algoz-o leito que nos preparastes é armadilha de espinhos.

como clamar-te pai , se despejas em nós essas todas chagas, essas tantas feridas?



por que não te revelas, onde tua face escondida, por que nas letras da dor escrevestes a vida?

quão perverso esse nada saber de ti, e por des-Saber-te renego teu prometido e desconhecido repouso.



daí-nos provas com teu tremor sagrado [?] do que existe depois, demonstrai-nos os segredos de tua morada, revelai-nos por que se nasce para morrer.



se tudo sabes, por que te silencias e cruzas os braços, enquanto esqualidos esperamos por morrer dia a dia?



quais caminhos percorrias, enquanto em leito doloroso esvaia-se o meu amigo?



estivestes ao lado dele, enquanto o câncer devorava seus desejos, engolia seus sonhos, apagava suas esperanças, sepultava suas alegrias?



ouvistes os clamores por vida, quando seus murmúrios a ti se erguiam?



amparastes o medo, a agonia, a esperança finda, quando ele partia?



entranhada de ti, provoco-te e não me respondes, com tua mudez plástica ignoras-me, ignoras-nos, tal qual fizestes com cristo, quando declarou na cruz teu divinal abandono.



assim como me tardo a existir, já és tardio em mim.



porque não sei jogar o teu jogo, e recuso teu jugo, minhas derradeiras palavras não direi a ti, mas ao amigo-irmão que perdi:



- amigo, como podes ver nada sei da vida ou da morte, menos conheço d”ele e de seus secretos, mas se podes me ouvir (d”onde-não sei), saiba que por aqui ainda permaneces, no pranto de meu filho, no eco de teu riso, nas lágrimas dos que te amam, nas entrelinhas dessa dor de fundeza que me sangra, nessa saudade tamanha...



ah! saiba também, por ti, plantei jacintos no meu quintal, para que nas horas restantes de minha vida, flores amorosamente!

meu todo bem querer,

tua, nanamerij

25/01/2010

Um comentário:

  1. Nana,

    De uma beleza condoída de causar espanto,menina!
    Há que destacar:
    "saiba que por aqui ainda permaneces, no pranto de meu filho, no eco de teu riso, nas lágrimas dos que te amam, nas entrelinhas dessa dor de fundeza que me sangra, nessa saudade tamanha...
    beijo

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